Congo Capixaba: memória e herança cultural do Espírito Santo

Emanuela Souza
3 min readFeb 28, 2018

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Ainda pouco conhecido fora das fronteiras litorâneas, o Congo Capixaba é um gênero musical nascido no Espírito Santo. Carregando a bagagem afrodescendente, os principais instrumentos para produzir o som vem dos tambores de congo, cuíca e reco-reco. As batidas animadas trazem consigo tradições que pouco a pouco são esquecidas pela população, e sobrevivem através da música.

A união de culturas dos diversos povos que passaram pelo estado — antes uma capitania — , uma vez que europeus, africanos, índios portugueses, alemães e vários outros povos se uniram em um mesmo local, a miscigenação deu origem a novas tradições. Mas o Congo Capixaba nasceu exclusivamente dos negros escravos, que foram levados para trabalhar nos engenhos. Enquanto viviam longe de seu país natal, sua cultura se mantinha viva através das tradições que aqui cultivavam, e estas ganharam influências de outros povos que aqui viviam, tornando o congo um gênero musical único, e patrimônio cultural do ES.

O curioso, é que historiados afirmam que o congo capixaba nasceu da necessidade dos escravos cultivarem sai fé nos deuses das religiões de matriz africana, ao mesmo tempo que também adorava os santos da Igreja Católica — resultado de um maçante evangelização dos povos nativos, que eram forçados a abandonar suas crenças e seguir apenas uma — . Isso mostra como foi um século repleto de retrocessos e opressões. O resultado disso, é uma maioria esmagadora dos brasileiros, acreditarem que as festas que envolvem a cultura africana, são voltadas para a adoração do deus católicos, sendo que surgiram para salvar o único resquício de uma nação.

Apesar de já existir desde a chegada dos escravos, o Congo Capixaba só entrou oficialmente nas festas culturais do estado em 1951. Nesse período as bandas de congo começaram a crescer e ganhar espaço no Espírito Santo. A composição dessas bandas, muitas vezes vem de pessoas mais pobres, que vivem nas periferias; descendentes dos escravos libertos que permaneceram no estado após da abolição da escravatura. A produção dos instrumentos também é simples: muitas vezes construídos com materiais encontrados na própria natureza, como madeira e pele de animais. As letras cantadas em coro, trazem canções que refletem sobre a escravidão, a nova vida dos africanos no Brasil, e aos santos e também ao mar.

Hoje, bandas de congo inovam trazendo instrumentos como guitarras e baixos para música, sem deixar o ritmo agitado, e as letras características do gênero. A banda Casaca faz sucesso no estado, fazendo um som um pouco mais moderno, sem deixar a importância cultural da música.

Em 2014, o Congo Capixaba foi oficializado com patrimônio imaterial no Palácio Anchieta em Vitória. Na cerimônia, foi destacada a importância cultural e histórica do gênero, que está presente na maioria das festas religiosas, e no folclore do Espírito Santo. Mesmo que seja muito popular no estado, é necessário entender que além de entretenimento, o congo carrega uma a bagagem cultural de um povo que através da música, conseguiu manter viva as tradições de seu lar.

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Emanuela Souza

Escritora por natureza, Jornalista por instinto. Apaixonada por palavras e pelos universos proporcionados por elas.